Existe uma lenda em Seattle. Ela fala de uma criatura que habita as regiões selvagens e remotas dos Estados Unidos e Canadá, conhecida como o Pé-Grande, ou Sasquatch. Metade homem, metade macaco (ou coisa do tipo).
Em 1993, se transformou em mascote do Seattle SuperSonics.

Squatch, como era chamado, foi uma das mais queridas figuras de animação nos jogos. Saltava, enterrava, andava de patins e até tocou bateria quando ganhou uma música de Chris Ballew, da banda de rock The Presidentes (http://abre.ai/clipe_squatch). A homenagem veio em 2007, um ano antes da lendária criatura desaparecer juntamente com sua equipe.

 

Apesar de ter deixado muitas viúvas o Sonics não está na lista das 15 franquias que foram extintas em mais de sete décadas de história na NBA (http://abre.ai/lista_dos_15). Nenhuma dessas, aliás, deixou tanta saudade quanto o time que nasceu em 1967 na cidade de Seattle, mas que no final da temporada 2007/08 mudou-se para Oklahoma City e se transformou o que hoje conhecemos como OKC Thunder.

A carismática franquia de verde e amarelo foi dominante enquanto viveu, se classificando para 22 playoffs da NBA, vencendo seis vezes sua divisão, três a Conferência Oeste e levantando o caneco da temporada de 1978/79 contra o Washington Bullets (http://abre.ai/parte_1 e http://abre.ai/parte_2 ).

Das duas vezes em que foi vice-campeão da liga, em 1977/78 e 1995/96, a última foi a mais dolorida. Tirando todo drama envolvido na decisão contra o Bulls – e que veremos logo abaixo -, há uma diferença gigantesca entre os dois vice-campeonatos. Enquanto a derrota de 78 foi sucedida pelo título já na temporada seguinte, o fracasso em 96 foi o último grande momento da franquia que chegaria ao fim 12 anos depois.

DESTINO
Naquela decisão de 96 a equipe de Seattle foi superada em seis jogos (4 a 2) pelo eficiente Chicago Bulls que, além de Michael Jordan (cestinha e MVP da temporada), contava com Scottie Pippen, Toni Kukoc, Dennis Rodman…

O Bulls abriu 3 a 0 na série. O Sonics buscou duas vitórias nos jogos 4 e 5. Mas com Jordan voando (quase literalmente) e Rodman capturando mais rebotes que qualquer um (pegou 11 ofensivos em dois jogos), Chicago fechou a conta na sexta partida ( http://abre.ai/final1996).

Para os torcedores do Bulls, a conquista significava muito mais do que o quarto título. Aquele campeonato representava o retorno do “Jordan como conhecíamos”. O ídolo havia abandonado o basquete após o 1º tricampeonato e o assassinato do pai em 1993, foi jogar beisebol e retornou em 1995 vestindo a camisa número 45 (mesma que usou na MLB). Com ela, Jordan e os Bulls perderam a semifinal da Conferência Leste em 1995 para o Orlando Magics.

Ele voltou a usar o 23 e comandou em quadra o que, para muita gente, foi o melhor time da história da NBA, dando o primeiro passo para mais um tricampeonato (96/97/98).

O retorno de Jordan, aliás, foi essencial para todo o enredo dessa história como conhecemos. Em 1994, os agentes de Bulls e Sonics planejavam uma troca de Scotie Pippen por Gary Payton, armador do Sonics. Jordan voltou, Pippen continuou e a o restante da história você já sabe…

Bulls e Jordan à parte, voltamos a falar de SuperSonics. Há quem diga que o tamanho de uma vitória é medido pelo tamanho do derrotado. Se você vencer um grande time, terá uma grande vitória. Pode não ser regra, mas tem certa lógica. Certo é que a temporada incrível dos Bulls foi coroada com uma vitória em cima de um grande time como aquele Seattle SuperSonics.

Contrariando um jogo mais pragmático da época, o Sonics parecia viver em outro universo. Seu jogo era frenético. Mais emoção do que razão. Havia briga entre jogadores, discussão com o treinador, confusão entre gerente e proprietário. Dá pra cravar que se existissem hoje, “quebrariam” a Internet e valeriam o preço do League Pass sozinhos.

Mas existia muito talento em quadra e, quando “estavam a fim de jogar”, era difícil segurar. Principalmente a dupla formada pelo armador Gary Payton (segunda escolha do Draft de 1990) e o pivô Shawn Kemp (17ª escolha um ano antes). Com os “Sonic Boom” e suas ponte-aéreas dignas de All-Star ( http://abre.ai/payton_kemp), aquele time de 1996 estabeleceu o recorde da franquia com 64 vitórias na temporada regular.

Kemp ficou conhecido como o cara das enterradas e tocos surpreendentes e Payton como um dos maiores defensores da liga, sendo eleito o defensor da temporada 1995-96 – fato inédito para um armador.

Depois da derrota para o Bulls, Kemp partiu para o Cavs (em 1997). Já Payton ficou por muito mais tempo, atuando em Seattle até 2003, quando foi para o Milwaukee Bucks.

HISTÓRIA ATRAVESSADA
Se existe um homem que não é bem-vindo em Seattle, esse é Clay Bennett. Foi ele que liderou um grupo de investidores para comprar a franquia do SuperSonics em 2006 pela “bagatela” de US$ 350 milhões. A ideia sempre foi levar o time para o Oklahoma e ele chegou a ser processado pela prefeitura de Seattle por isso.

A estratégia de Bennett foi dizer que só manteria o time em Seattle se a KeyArena fosse restaurada ou uma nova arena fosse construída. Como isso não aconteceu, a franquia se mudou para Oklahoma em 2008, sendo rebatizada como Oklahoma City Thunder.

Como carimbo atestando o fim do Sonics, a nova equipe abdicou do nome, logo e cores, que ficaram disponíveis para serem utilizados futuramente em Seattle. Essa história é muito melhor narrada no documentário “Sonicsgate” (http://abre.ai/versao_diretor – em inglês).

ADEUS
A última vez que o uniforme verde e amarelo desfilou em quadra foi em 16 de abril de 2008, quando o Sonics encarou o Golden State Warriors fora de casa. Nesse jogo, o novato do ano brilhou anotando 42 pontos. O nome dele? Kevin Durant. O jogador foi a segunda escolha do draft de 2007, e logo em sua primeira temporada quebrou um recorde de Bob Rule que já durava 40 anos, tendo média de 20,3 pontos por jogo com a camisa do Sonics.

O último ato oficial da franquia como Seattle foi o draft de 2008, dois meses depois da última partida. De lá saíram Russell Westbrook e Serge Ibaka, que se transformariam em pilares do OKC – juntamente com o já conhecido Kevin Durant.

Antes de tudo isso, a NBA já tinha lamentado as aposentadorias de Kemp e Payton. O primeiro pelo Orlando Magic em 2002/03, com 33 anos, devido a problemas de peso e saúde. O segundo atuou por mais tempo e foi mais bem-sucedido. Payton abandonou as quadras um ano antes da mudança do Sonics, em 2007, quando jogava pelo Miami Heat – onde, aliás, conseguiu ganhar seu anel da NBA em 2006.

Coincidência, destino, ou seja lá o que for, a franquia é enterrada logo após o último elemento dos “Sonic Boom” sair de cena. Em 2008 a NBA ganhou o Thunder, uma das potências do Oeste, mas já não contava com os SuperSonics.

Assim como uma criatura que habita o folclore de Seattle, eles simplesmente saíram de cena e não foram mais vistos. Como garantem aqueles que já avistaram o Pé-Grande. Mascote que foi escolhido muito antes de se imaginar o desfecho da franquia, mas que encaixa perfeitamente nessa história lendária.

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