“Não é apenas roubar a bola. É o conjunto da obra: fazer nosso adversário trabalhar duro para chegar até o outro lado da quadra e tirá-los do ritmo que eles desejam. Queremos forçá-los a jogar no nosso ritmo, isso é muito importante para nós”. 

Essas palavras foram ditas por Bob Huggins, treinador de West Virginia, lá no ano de 2016. Nessa época sua equipe ganhou o apelido de ‘Press Virginia’, pelo modo como pressionava os oponentes por toda a quadra numa intensidade que a gente não está acostumado a ver. A ideia principal era tirar os adversários da zona de conforto e fazê-los gastar bastante energia em cada posse de bola, eventualmente forçando erros.

Essa estratégia funcionava porque maximizava justamente os pontos fortes do elenco que Huggins tinha em mãos: vários jogadores muito atléticos, intensos, com mobilidade e adeptos de um jogo acelerado. Mais do que isso, a profundidade era bem acima da média: com mais atletas na rotação, menos cansado cada um deles fica no final de partidas tão desgastantes – enquanto se espera que o contrário aconteça com o time adversário.

O cenário atual, no entanto, é bem diferente. Desde 2018 que o apelido de Press Virginia já não corresponde à realidade. Nos últimos tempos a defesa dos Mountaineers raramente se estende por toda a quadra e, por consequência, não consegue forçar turnovers na mesma frequência de outrora:

Temporada Taxa de Turnovers Forçados Posição no País
2014-15 28.0%
2015-16 25.0%
2016-17 27.6%
2017-18 23.3%
2018-19 18.5% 172º
2019-20 22.4% 29º
2020-21 19.0% 177º

Huggins adoraria continuar forçando turnovers em 25% das posses defensivas, pois roubos de bola geralmente acabam em cestas fáceis em contra-ataques. Nesses primeiros jogos de 2020-21, WVU vem tendo dificuldades em criar ofensivamente quando enfrenta uma defesa organizada, no 5 vs 5. A qualidade das finalizações que o time cria é muito baixa, e isso fica bem evidente quando notamos que mais de 43% dos arremessos de quadra dos Mountaineers são feitos de média distância (conhecido por ser o arremesso menos eficiente do basquete). Nenhum outro time das sete principais conferências da NCAA chuta tanto de média distância quanto West Virginia!

O problema dos adversários de WVU é que uma posse defensiva não é concluída ao forçar um arremesso errado, depois disso você ainda precisa garantir o rebote. E é aí que mora o perigo: o time de Bob Higgins se baseia na força física e tenacidade dos seus atletas de garrafão. Derek Culver e Oscar Tshiebwe vão fazer da sua vida na área pintada um inferno e a sua frustração por não conseguir evitar os rebotes ofensivos vai, aos poucos, minando sua energia.

“Nesse momento, o melhor ataque de West Virginia é um arremesso errado” disse Fran Fraschilla, comentarista da ESPN, quando os Mountaineers enfrentavam o forte time de Baylor em março.

De fato, WVU não vai vencer jogos pela eficácia dos seus arremessos. São poucos especialistas em bolas de três, o espaçamento é ruim e o time quase não possui jogadores capazes de criar algo após o drible de forma consistente – embora o talentoso Miles McBride esteja crescendo muito nessa função. Isso tudo faz com que o time seja apenas o 219º melhor do país em conversão ajustada de arremessos de quadra. Não é com a qualidade dos arremessos que West Virginia vai bater você, e sim com a quantidade. Enquanto os bigs de Bob Huggins conseguirem se impor no garrafão e criarem segundas e terceiras chances de arremesso, as porcentagem serão pouco relevantes.

É por isso que, apesar de todos os problemas de criatividade ofensiva, a universidade situada na cidade de Morgantown figura entre os 20 ataques mais produtivos do país em eficiência ajustada. Provando que um ataque moderno não precisa ser super fluido e com muita movimentação de bola para ser efetivo; isso também pode ser alcançado de forma bruta, grosseira e pouco plástica. O caminho a ser escolhido vai depender essencialmente do material humano que você possui naquele momento.

Como o material humano que Bob Huggins tem em mãos é bem diferente daquele de 2017, a defesa também precisou de ajustes. Com um time mais pesado, não existe mais aquela vontade de acelerar as partidas. Pelo contrário, o sistema atual é bastante conservador: muitas vezes veremos a marcação passando por baixo dos bloqueios para não expor os pivôs em pick and rolls e evitar infiltrações.

“O negócio era não deixá-los converter bandejas e forçá-los a nos vencer com arremessos longos” disse Huggins após um jogo contra Texas Tech em 2020.

O discurso e a estratégia mudaram. As armas usadas para tentar vencer as partidas são outras. Huggins está prestes a alcançar as 900 vitórias na carreira como treinador e sabe que não deve se comprometer com apenas um sistema. Há várias formas de se derrotar seus adversários e ele precisa estar constantemente fazendo ajustes se quiser ter o sucesso desejado. Nesse momento, a melhor chance que ele tem de levantar o troféu é com um basquete conservador, rude e pouco elegante.

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