Confronto atrasado entre as duas equipes marca duelo de geração consagrada e equipe do futuro

Boston Celtics e Golden State Warriors começam hoje as Finais da NBA.

Com transmissão da ESPN, a bola sobe às 22h00 (horário de Brasília) no Chase Center, em São Francisco, nesse que é o primeiro confronto das duas tradicionais franquias na pós-temporada, e marca um duelo de equipes montadas em casa e, principalmente, de gerações distintas.

Quem chega melhor para o confronto?

Como as duas equipes chegaram até aqui?

A temporada do Boston Celtics foi uma das mais alucinantes da história recente da NBA.

No início de 2022, a equipe amargurava a 11ª posição do Leste com uma campanha medíocre de 18 vitórias e 21 derrotas, o técnico novato Ime Udoka e os próprios jogadores não pareciam estar em sintonia e a sensação era de um time que já tinha visto seus melhores dias.

Então, um dos principais astros da equipe, Jaylen Brown, famosamente publicou em seu twitter que “a energia está para mudar” após uma derrota inexplicável para o New York Knicks. A partir dali, Boston ganharia 33 dos próximos 43 jogos, conquistaria o 2º lugar no Leste e, com vitórias sobre Nets, Bucks e Heat, a 22ª aparição em finais na história da franquia (atrás apenas dos rivais de Los Angeles, com 32).

Marcus Smart foi eleito Melhor Jogador de Defesa da temporada, Robert Williams III selecionado para o segundo time de defesa e Jayson Tatum para a seleção geral da temporada. Ime Udoka perderia o título de técnico do ano para Monty Williams… que viu seu Phoenix Suns ser envergonhado no segundo round da conferência vizinha.

E mesmo durante os Playoffs foram vários os momentos de dúvida: a bandeja no último segundo contra Brooklyn, a derrota no Jogo 5 para Milwaukee, os 11 pontos de vantagem que viraram 2 contra Miami. Caso perdesse novamente nas Finais de Conferência, seria a quinta derrota na mesma fase nas últimas 11 temporadas, o que marcaria a equipe como o time do quase e provavelmente provocaria mudanças drásticas.

A ida para as Finais foi um alívio por derrubar essa alcunha, uma confirmação de que o projeto ainda segue no caminho certo (praticamente o elenco inteiro foi draftado por Boston), e uma esperança de adicionar o banner #18.

Já o Golden State Warriors teve um caminho mais… tranquilo.

Com um início avassalador ganhando 10 de 12 jogos, lesões de Draymond Green e Stephen Curry seguraram a campanha na temporada regular, mas a volta de Klay Thompson se provou uma injeção de ânimo necessária.

O curioso é que Stephen Curry teve seu ano menos eficiente e produtivo desde seu primeiro MVP, em 2015, o que reforça a qualidade da gerência do Golden State Warriors. Capitaneados por Bob Myers e contando com a habilidade de Steve Kerr de gerir pessoas, o time extraiu o inimaginável de jovens como Jordan Poole, Jonathan Kuminga e Moses Moody, além de resgatar o basquete perdido de Andrew Wiggins e Kevon Looney.

O resultado foi um Warriors jogando com, praticamente, cinco All-Stars em diferentes momentos desses Playoffs, sempre saindo na frente em cada uma das três séries e chegando de maneira convincente nas Finais.

Como chegam as duas equipes para a Final?

O balanço de forças da NBA mudou nos últimos anos.

Se Boston teve de passar por Kyrie Irving e Kevin Durant na primeira rodada, Golden State enfrentou um Denver sem Jamal Murray e Michael Porter Jr.. Se os Celtics tiveram que suar sangue para derrotar os atuais campeões, que contaram com uma série histórica de Giannis Antetokounmpo, os Warriors tiveram a “sorte” de Ja Morant sair lesionado na série contra Memphis. Se o Miami Heat é um finalista de NBA e primeiro colocado do Leste, o Dallas Mavericks chegou na final do Oeste pensando em como já haviam superado as próprias expectativas para estar ali.

Indiscutivelmente, os comandados de Ime Udoka foram mais testados que os de Steve Kerr. Isso é… no ano de 2022. O grande diferencial dessa série pode justamente ser a experiência dos Warriors, um time que, no seu centro, faz sua sexta final nos últimos oito anos, e vai em busca de seu quarto título nesse mesmo período.

Steph, Draymond e Klay ainda precisam comprovar que podem ganhar sem Kevin Durant (contra um adversário infinitamente superior aos agregados que fecharam com LeBron James o Cavs de 2015), mas devem ter uma tranquilidade e familiaridade com o palco que Tatum, Brown e Smart terão de encontrar durante a série.

Pontos importantes

  • As equipes dividiram os dois confrontos de temporada regular, marcados por desfalques e pelas vitórias dos times visitantes
  • Quanto a chance de finalmente ganhar um MVP das Finais vai afetar a performance de Stephen Curry (para o bem ou para o mal)?
  • Jayson Tatum, pronto para se tornar uma lenda em uma das duas maiores franquias da NBA? Quanto isso pode pesar na cabeça do jogador de 24 anos de idade
  • Boston é um time físico, um dos maiores problemas para o Small Ball de Golden State
  • Celtics tem a melhor defesa da NBA, mas o Warriors tem mais poder de fogo
  • Draymond Green vs Marcus Smart, quem mais pode desequilibrar (para o bem ou para o mal) uma final que parece ser extremamente balanceada?

Números importantes

  • Nos Playoffs, Golden State ganha os jogos no último período por uma margem de 25.4 pontos por 100 posses, de longe a maior da NBA
  • Warriors está 8-0 quando liderando após 3 quartos (Boston, 10-1)
  • Curry chuta apenas 29% quando marcado por Marcus Smart desde 2014
  • É a primeira vez desde 1996 (Bulls 4×2 Supersonics) que as duas melhores defesas da temporada se enfrentam na Final.

Quem leva?

A torcida do Golden State Warriors deve ser a maior do mundo com uma margem considerável desde 2015 (contando os novos fãs, pelo menos).

No Brasil então, apostar contra Golden State é quase um convite para críticas sem fim. A equipe tem a vantagem na experiência, na profundidade de elenco, no mando de quadra e no favoritismo de analistas e torcida.

A sensação é que Boston fez algo que ninguém esperava, que chegou em uma Final em uma temporada onde muitos cogitavam que não chegaria aos Playoffs. Mas aquela ideia de que já atingiu tudo o que poderia não se mantém: o time tem plenas chances de sair com o título e não vai deixar a tão sonhada vaga na Final diminuir o foco.

Na quadra, é preciso ver como Udoka vai ajustar a defesa do time, acostumada a pontuadores centralizados em Durant, Giannis e Butler, para defender o ataque mais coletivo e com várias opções do Warriors. Smart deve ser o principal candidato à marcar Stephen Curry, mas esperem muitas trocas e alguns problemas para conter a velocidade da equipe.

Do outro lado, a formação Curry-Klay-Green-Poole-Wiggins deve sofrer para conter o alto time de Boston, e Jayson Tatum tem que se aproximar da cesta para abusar dos mismatchs que com certeza irão surgir.

Os momentos decisivos são outra incógnita. Ambos os times estão acostumados a dominar os jogos que ganham, e mais de uma vez escaparam nos últimos momentos contra equipes inferiores. Me parece que Boston sente menos a pressão (Brown e Tatum tem sido extremamente eficientes no final das partidas), mas Golden State quando entra nos seus momentos fica difícil de ser segurado.

Em uma série que deve ser longa, o time mais testado e mais físico, que faz os melhores ajustes, tem a vantagem em partidas que devem ser disputadas do início ao fim. Warriors tem a experiência a seu favor, mas talvez esteja na hora da NBA finalmente ter uma mudança de gerações.

E não existe final melhor para isso que os jovens draftados do Celtics enfrentando os campeões draftados do Warriors. Celtics em 7.

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