A incrível história do time mais famoso do mundo

Os nascidos pós-década de 1990 talvez não tenham a mesma sensação, mas quem passou a infância arregalando os olhos para os malabarismos dos Harlem Globetrotters, reconhece facilmente os assobios da versão de Sweet Georgia Brown (http://abre.ai/trilha_globetrotters) anunciando que o show do time mais famoso do mundo vai começar.

Harlem Globetrotters é uma equipe de exibição que junta teatro, comédia, malabarismo, dança e, claro, basquete de altíssima qualidade. A ideia é mostrar a arte do basquete, com dribles nos companheiros de equipe e, principalmente, muitas brincadeiras com o público (http://abre.ai/hilariousmoment).
Como o nome já diz, Globetrotters são uma espécie de viajantes pelo mundo. Mas vão muito além disso. A trajetória dessa equipe mudou a história do esporte, rompeu as barreiras do racismo, ajudou a criar a NBA e, de fato, espalhou o esporte da bola laranja pelos quatro cantos da Terra.

FUNDAÇÃO
Ao contrário do que pode parecer, o time não nasceu no Harlem, mas em Chicago.
Em 1926, o empresário Abe Saperstein (http://abre.ai/livro_abe), que tinha 24 anos, fundou um time chamado Savoy Big Five para promover uma boate chamada Savoy Ballroom, o ‘point’ da música e dança no bairro Harlem, em Nova York.

Depois de uma briga com o sócio, Saperstein fundou New York Globetrotters, que em 1930 passou a se chamar Harlem Globetrotters. A ideia da troca era enfatizar que todos os jogadores do time eram negros, já que o Harlem é o bairro considerado centro da cultura Afro-Americana de Nova York. Mesmo assim, a equipe demorou 40 anos para jogar em Nova York, e só fizeram isso em 1968.

O time, que atualmente conta com brancos e latinos, começou sendo basicamente uma equipe de negros, o que era uma novidade para uma época onde negros não podiam jogar. Na segregação absurda da época, havia separação de banheiros, comércio, de tudo. De um lado só brancos, de outro os negros, que eram proibidos de jogar basquete.

MAIS QUE FIRULA
Até 1939, os Globetrotters jogaram partidas de exibição, onde a equipe de negros mostrava um repertório de habilidades sem fim nunca antes vistas nos jogos oficiais. Mas a história começa a mudar a partir de 1940.

Sem a existência da NBA, que só veio em 1949 após a junção da Basketball Association of America (BAA) e a rival National Basketball League (NBL), o Globetrotters foi campeão mundial de basquete ao vencer o Chicago Bruins.

Esse Mundial de Basquete Profissional foi disputado de 1939 a 1948, terminando em 1949, assim que nasce a NBA unificando as duas associações da época (BAA + NBL).

Não bastasse ter vencido uma vez o Mundial o Harlem Globetrotters ainda mostrou sua força ao superar, por duas vezes seguidas, em 1948 e 49, o atual campeão do mundo Minneapolis Lakers – que depois se transformou em Los Angeles Lakers.

CONTRA O RACISMO
Com essas conquistas, os Globetrotters confirmaram que os afro-americanos podiam ter destaque de nível profissional. Tanto que foi do time de exibição que saíram os dois primeiros negros da NBA, que mudaram o curso da história e abriram um caminho para outros jogadores.

Em 1950, Chuck Cooper, que havia se formado na Duquesne University antes de chegar ao Globetrotters, foi o primeiro negro a ser draftado. Ele foi a 14ª escolha geral feita pelo Boston Celtics (http://abre.ai/historia_chuck).

Também em 1950, Nat ‘Sweetwater’ Clifton se tornou o primeiro jogador negro a assinar um contrato com a NBA quando o New York Knicks comprou seu passe do Harlem (http://abre.ai/historia_sweetwater).

AGORA, SIM… PELO MUNDO
No mesmo ano, em 1950, começaram as turnês internacionais do Globetrotters, com primeira parada em Portugal. Depois, em 1951, eles desembarcaram pela primeira vez no Brasil para uma partida contra um combinado das equipes de Flamengo e Fluminense. Só nessa turnê, mais de 30 países foram visitados.

Os Globetrotters terminaram a década com uma viagem à União Soviética, onde fizeram nove partidas em Moscou – mesmo com a relação conturbada entre EUA e URSS.
Nessa altura do campeonato, a equipe contava com o mais famoso de todos os jogadores que vestiram o tradicional uniforme nas cores da bandeira americana.

Wilt Chamberlain, o homem de 100 pontos num jogo, passou pela Universidade de Kansas e depois foi para o Harlem Globetrotters por um ano antes de iniciar sua campanha histórica de 14 temporadas na NBA, somando dois anéis (pelo Philadelphia 76ers e pelo Los Angeles Lakers).
O número 13 que usava é um dos que foram retirados pelos Globetrotters.

PRECONCEITO
Apesar do sucesso no mundo todo, sendo tratados como estrelas, os jogadores do Harlem Globetrotters ainda sofriam com o racismo nos EUA (http://abre.ai/livro_spinning_the_globe).
Em 1957, quando viajaram para uma apresentação em Jacksonville, foram impedidos de entrar num hotel da cidade. No mesmo dia, um chipanzé que fazia propagandas de uma marca de pista de boliche e que estava na cidade, ficou hospedado numa grande suíte do hotel.

O detalhe é que mais de 18 mil pessoas foram assistir a apresentação do time em quadra – pelo menos 90% brancos.
Essa é só uma das tantas histórias de preconceito que a equipe enfrentou desde seu início, em 1927, até a era dos direitos civis, nos anos 1960.

A VEZ DAS MULHERES
Mas os Globetrotters continuaram sua missão de romper barreiras e, em 1985, contrataram a primeira mulher americana a jogar para uma equipe masculina de basquete profissional: Lynette Woodard, que havia ganho a medalha de ouro nas Olimpíadas.
Depois de duas temporadas com os Globetrotters, em 1987 ela foi contratada pelo Cleveland Rockers, da WNBA, e entrou para o Hall da Fama do Basquete em 2004 (http://abre.ai/lynette_hall_da_fama).

PAPA, MESSI, NEYMAR…
Além das camisas retiradas, os Harlem Globetrotters também têm seus membros honorários, que são personalidades.
Alguns deles são Kareem Abdul-Jabbar, Whoopi Goldberg (atriz de Mudança de Hábito),
Nelson Mandela (que conheceu o time quando eles foram jogar na África do Sul após o Apartheid – http://abre.ai/visita_mandela) e até o Papa João Paulo II (que, assim como o atual, Francisco, também recebeu a equipe no Vaticano – http://abre.ai/visita_papa_francisco).

As curiosas homenagens não param por aí. Os globe-trotters também têm seu draft, mas não é um draft comum.
Na verdade eles selecionam personalidades e estrelas. Já foram “draftados” pelo Harlem figuras como Lionel Messi, Usain Bolt, Paul Pogba e Neymar.

NA TELONA E NA TELINHA
Se você se lembrou da música tema do Harlem Globetrotters, muito provavelmente também tem idade para se recordar se seu desenho animado.
Eles viraram personagens dos desenhos da dupla Hanna-Barbera em 1970, mas a primeira série só contou com 13 episódios. Eles voltaram em 1979, agora como os “Super Globetrotters”, que ganhavam superpoderes para enfrentar os vilões (http://abre.ai/super_globetrotters) . E também fizeram aparições nas aventuras do Scoby-Doo, outro sucesso de Hanna-Barbera (http://abre.ai/scooby_globetrotters).
Antes, foram feitos dois filmes sobre o time, em 1951 e 1954, estrelando o ator Sidney Poitier (http://abre.ai/filme_completo_1954).

OBRIGADO, GLOBETROTTERS
Ao todo foram mais 26 mil partidas realizadas pelo mundo inteiro. Do Vaticano, passando pela Rússia, Brasil e África do Sul.
Conhecidos também como “Embaixadores da Boa Vontade”, eles percorrem o mundo não apenas fazendo exibições, mas combatendo o preconceito, visitando hospitais e incentivando crianças a estudar e praticar esportes (http://abre.ai/visita_hospital).
Tudo isso fez do Harlem Globetrotters o time mais famoso do mundo e que muitas vezes proporcionou a primeira experiência com basquete em vários países.
Um time que quebrou barreiras do preconceito, deu um empurrãozinho na criação da NBA e levou o basquete para todo canto do mundo.

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