A Unifacisa fez mais uma ótima contratação para a próxima temporada do NBB que tem início em novembro, Rafa Oliveira, eleito um dos jogadores que mais evoluiu na última temporada acertou com o time paraibano. O anúncio deve ser feito oficialmente em breve. Rafa nos deu uma entrevista exclusiva para o jornalista Daniel Oliveira (@reporternbb) contando sobre a sua história, antes de inciar conversas com a equipe de Campina Grande-PB.
Tendo que mesclar estudo, trabalho e treinos aos 13 anos, Rafa teve dificuldades para conseguir oportunidades no basquete de base e precisou sair de casa cedo para buscar espaço em maiores centros do basquete, se sustentando com dinheiro conquistado em seu trabalho numa lan house.
Ele destaca a importância da LDB sub-22 e da Liga Ouro para conseguir fazer a transição para o adulto e ter oportunidades para adquirir rodagem, e ainda nos conta que o pivô Shilton é a sua maior inspiração no basquete. No NBB12, Rafa Oliveira teve médias 16.2pts, 5.1reb e 17.9Ef, atuando por São José, e foi um dos indicados ao prêmio de Jogador que Mais Evoluiu.
O que o Rafinha gostava de fazer na infância em Divinópolis-MG?
Como qualquer criança quando começa a conhecer um esporte é futebol, no Brasil é uma cultura né, o esporte mais divulgado e que tem a maior visibilidade é o futebol, então eu tentei jogar futebol de campo, mas não deu certo, e depois futsal até os 13 anos. Eu também sempre gostei de ter meu dinheirinho, ser independente, então eu com 11, 12 anos já ganhava meu dinheiro, independente do que tinha que fazer, dava um jeito de vender alguma coisa ou arrumava um serviço. E também não larguei os estudos, então eu trabalhava e estudava.
Quando foi que você conheceu e se apaixonou pelo basquete?
Eu conheci o basquete através de uma obra que eu ajudava meu padrasto, ele era gesseiro – ele veio a falecer quando saí de Uberlândia e fui para Belo Horizonte então ele não pegou a melhor parte que eu tive, ele pegou só os perrengues de Uberlândia que a gente tinha. Aí o dono dessa obra viu o meu tamanho e perguntou se eu praticava algum esporte, e eu disse que não, então ele disse que tentaria um teste pra mim no melhor clube da cidade, que disputava o federado.
Ele conversou com o técnico lá, que me chamou pra fazer o teste. Eu fui lá, não sabia nada, zero noção de basquete, tinha quase 14 anos, o tênis que eu fui parecia uma botina. O técnico disse que gostou do meu físico, meu tamanho, mas o clube não tinha o “sócio-atleta” e eu não tinha condição de ser sócio do clube. O treinador me disse que ia tentar criar um projeto particular pra exatamente ajudar os que não tinham condição de ser sócio do clube. Eu pensei que seria uma coisa rápida, mas passou mais de um ano, eu estava com 15 anos e ele abriu uma escolinha de basquete numa escola particular. Ele me ligou perguntando se eu queria jogar, e eu fui tentar porque gostei do esporte e da resenha quando fui fazer aquele primeiro teste. Eu andava 3km para ir treinar, e ia correndo pra já chegar aquecido. Lembro também que eu ia com tênis de futsal, e a dona da escola me deu o primeiro tênis de basquete.
Durante esse ano todo que eu fui criando um amor verdadeiro pelo basquete, fui conhecendo mais, acompanhando mais jogos. Na época eu trabalhava em uma lan house a tarde e estudava de manhã, e fui juntando dinheiro pra ir fazendo testes, fiz teste no Minas, depois no Praia de Uberlândia, no Olímpico em BH e não passei em nenhum. Eu pensei em parar com basquete e continuar trabalhando na lan house e estudando pra ver o que ia dar. Até que surgiu um projeto em Uberlândia, pra jogar escolar e eu fui pra lá com 16 anos pro tudo ou nada, foi a primeira experiência saindo de casa, sem receber, tinha apenas uma alimentação, mas como eu tinha juntado dinheiro do trabalho na lan house eu pensei que por uns meses dava pra me manter sem pedir ajuda pra minha mãe porque a gente já tinha as nossas dificuldades.
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— RepórterNBB (@ReporterNBB) July 11, 2020
O Lupa deu a melhor entrevista do basquete brasileiro e por isso foi eleito por nós como Craque da Resenha do NBB!
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E como foi a continuidade em Uberlândia até chegar a base do UNITRI?
A gente jogou esse escolar, ficamos em segundo lugar e o dono do projeto veio nos avisar que o time ia acabar. Nesse momento eu pensei que o sonho tinha acabado mesmo. Só que o técnico do Sesi chamou a gente desse projeto pra ir pra lá, eles nos dariam moradia e alimentação e eu fui pro Sesi, fiquei 2 anos, 2009 e 2010 mas quando estava completando 18 anos não teria mais como jogar, então voltei pra casa e recebi uma proposta do Praia para treinar em Uberlândia e jogar o Paulista juvenil, eu pensei que era uma excelente oportunidade por causa da visibilidade do campeonato, e fui. Nesse primeiro ano no praia eu disputei a LDB pelo Uberlândia porque eles fizeram parceria com a UNITRI. No segundo paulista que disputei eu fui o segundo cestinha do campeonato da geração 93, mas não
apareceu nada, eu não tinha agente e não tinha muito conhecimento. Só no final do ano apareceu o Ginástico pra jogar LDB e completar os treinos, isso foi em 2013, eu tinha 20 anos.
Se não fosse a LDB minha carreira teria acabo ali, eu já teria parado porque eu tive oportunidade no ginástico por causa da LDB. Foi a minha melhor LDB, terminamos em quinto lugar, perdemos só um jogo pro Minas. Mas depois disso o projeto durou só mais 3 meses e se encerrou.
Eu pensei mais uma vez que o sonho tinha acabado ali, eu já tinha 21 anos. Mas o técnico do Minas na época, o Cristiano, disse que tinha interesse em mim e eu fui. Essa é a importância da LDB ser sub-22, porque te dá mais tempo de transição da base para o adulto e a oportunidade de jogar e também treinar com os adultos. Muitos atletas param no meio do caminho porque com 20 anos os clubes não tem tanta confiança, a não ser que você seja fora do comum e tenha um talento imenso, que são poucos.
E no Minas você teve essa oportunidade de fazer a transição da base para o NBB?
No primeiro ano no Minas eu só completava os treinos do adulto, mas estava adquirindo conhecimento, tava ali no meio vendo de verdade como que era. E eu não tinha essa visão antes de chegar no Minas, porque as equipes que eu jogava antes não disputavam o NBB. E no segundo ano meu no Minas eu já participava dos jogos do NBB8 com algum tempo de quadra, e jogava a LDB. Só que acabou o NBB, eu tinha 23 anos e fui dispensado do Minas.
E como foi a sua ida para a Liga Ouro? Importante pra ter tempo de quadra?
Eu tive a oportunidade de ir pro Contagem pra disputar o campeonato mineiro e futuramente a Liga Ouro. Tinha 3 times no campeonato mineiro: Minas, Contagem e Ginástico. Eu fui o melhor jogador do campeonato. Aí o Minas me chamou de novo pra jogar o NBB9, mas não tive muito tempo de quadra, e eu queria muito ter tempo de quadra, aí o Contagem me chamou de novo pra jogar a Liga Ouro e eu fui.
O campeonato acabou no final de Maio e eu fiquei sem time, nenhuma luz no fim do túnel e fiquei naquele dilema né, até dezembro sem saber de nada, correndo atrás, procurando, pedindo ajuda e esse foi o momento que pensei que a carreira ia acabar mesmo, já tinha 24 anos e quase um ano sem clube. – E aí que entrou a importância da Liga Ouro, que na minha opinião deveria voltar, porque quanto mais times melhor.
Porque ela dá um contrato de 6-7 meses pra um jogador que poderia estar parando de jogar ou um jogador que às vezes não teve a oportunidade adequada no NBB e poderia adquirir mais rodagem -. Surgiu a oportunidade de ir pra Macaé, que eu pensei que tinha que ser o tudo ou nada, porque não dava mais pra ficar sofrendo, esperando, essas incertezas doem pro atleta, machuca bastante, a gente se sentir desvalorizado e deixado de lado, então tinha que ser o tudo ou nada. Eu decidi que ia me matar de treinar, ia fazer tudo que tava ao meu alcance pra buscar o meu espaço. E a gente conseguiu fazer um bom campeonato, bons jogos, vendemos caro a eliminação pro Corinthians, tiramos a Unifacisa lá dentro de Campina Grande.
E como foi a sua volta para o NBB, já com mais rodagem, indo pra um time de camisa como o Vasco?
Assim que acabou a Liga Ouro com Macaé o meu agente já me ligou falando que tinha o interesse do Vasco e eu não pensei duas vezes, mais um desafio e teria a oportunidade de trabalhar com Bial que todo mundo já falava dele, uma pessoa com o coração gigantesco que sabe lidar muito bem com as pessoas, além de ter a oportunidade de trabalhar com jogadores como o Duda Machado e o Holloway no começo, que eram jogadores experientes já. E um clube de camisa né, todo jogador quer jogar num clube de camisa.
Cheguei lá desconhecido, o Bial não me conhecia, cheguei na minha, no meu jeito, fazendo o que sempre fazia que era treinar extra, chegar antes e ficar depois, tentando buscar meu espaço. No começo eu tinha 5 minutos de quadra, mas fui ganhando espaço e no final teve jogos que joguei 35, 37 minutos.
E então você foi pra São José como desconhecido, como foi esse início em São José?
Então, o Vasco tinha conversas pra viabilizar a continuidade do projeto e eu queria ficar pra dar continuidade no trabalho. Mas de uma hora pra outra não teria mais o dinheiro e eu fiquei sem time, várias equipes já tinham saído no mercado. Aí chegou a proposta de São José, a princípio só pro Paulista e já sabendo que iriam trazer um gringo pro NBB. Eu consegui que o contrato fosse pra temporada toda pra ter mais tranquilidade pra trabalhar.
Cheguei focado em fazer um excelente trabalho já no Paulista e coloquei na minha cabeça que quem chegasse ia ter que suar pra tirar minha oportunidade. Eu consegui já fazer um bom Paulista e quando o Augustín (Ambrosino) chegou pra mim foi excelente porque foi um embate individual, aquela competitividade sadia de querer ser titular e eu usei isso ao meu favor.
Você começou o NBB bem individualmente, a equipe melhorou durante a competição e você se destacou até sendo duas vezes escolhido pra seleção da semana, tendo bons números individuais e foi indicado ao prêmio de jogador que mais evoluiu. O que você acha que aconteceu de diferente nessa temporada? Foi oportunidade de jogar, maturidade física e mental ou mais treinos?
Eu acho que é um conjunto de tudo, a maturidade que a gente vem adquirindo ao longo dos anos, a experiência, a oportunidade de ter uma sequência e tempo de quadra, tudo isso influencia. Mas o tempo de quadra é muito importante, porque é difícil você fazer números se não tem o tempo pra jogar. E eu tentei adquirir confiança, você vai treinando e jogando e adquiri isso, e quando chega no jogo sai natural.
Eu sempre gostei de chegar antes nos jogos, ver como está o ambiente, fazer o meu ritual, eu não gosto de ficar arremessando com tudo porque tira o meu foco, então eu chego antes, faço a minha série e quando vejo que tá começando a chegar gente eu saio, faço meu alongamento, começo a analisar o jogador adversário, o que pode acontecer no jogo. Esse é um ritual que eu tenho e não gosto de mudar. Eu até como sempre as mesmas coisas antes do jogo.
Como foi pra você, que sempre foi um jogador mais de rotação nas equipes, ter o ginásio gritando seu nome, a torcida pedindo fotos e autógrafos, esse carinho da torcida?
Cara, nem nos melhores sonhos a gente imagina isso. A gente sonha em jogar bem e ser eficiente, a gente pensa isso, mas nunca tipo “Ah, eu vou ser o cara. Ah, a torcida vai me carregar no colo”, não pensa. E eu sou um cara muito na minha, não sou aquele cara de chamar a torcida. Então pra mim foi gratificante, foi uma coisa assim que até motiva né, é até um combustível você ver a torcida gritar, a torcida pedir foto, mandar mensagem em rede social. Isso aí dá uma motivação grande pra continuar fazendo isso tudo.
Quem é o seu ídolo no basquete, aquele que você quis jogar junto e se inspira?
Eu não tenho um cara que seja ídolo, ídolo mesmo. Eu me espelho em pessoas que tão aqui no Brasil, que jogam no NBB, que tem um estilo de jogo parecido, pessoas que eu já joguei junto, que eu conheço a história de vida e tudo mais. Um cara é o Shilton, que tem uma vasta história no NBB e eu tenho uma amizade com ele, tô treinando com ele, é um cara que tem uma família, um cara inteligente e que me passa muita experiência de vida. Tem outros, como o Alex, que é um cara que pô, se você joga basquete no Brasil e não se espelha no Alex, pode parar de jogar basquete. O Olivinha é um cara que eu gosto também, que é um estilo de jogo, um cara raçudo e joga pro time.
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