Um dos momentos mais aguardados da temporada na NBA é o draft, evento que acontece anualmente na pré-temporada e onde promessas do basquete universitário e alguns estrangeiros inscritos são escolhidos pelas equipes em duas rodadas, totalizando 60 escolhas.
Podemos dizer que o draft é feito basicamente de duas cenas: a que todo mundo vê e o que fica nos bastidores. Numa breve comparação, o primeiro mais parece a cerimônia de entrega do Oscar, enquanto o segundo e mais importante nos faz imaginar uma cena digna de dias quentes na bolsa de valores, com agentes pendurados no telefone promovendo trocas, simulando, negociando.
Pode até não ser tão fervoroso como um dia pegado na bolsa de valores, cheio de malucos descabelados aos berros no telefone. É muito mais estratégia, como mostram alguns filmes conhecidos como “Draft Day”, de 2014 (no Brasil, “A Grande Escolha” – http://abre.ai/trailer_
Na NBA, o esquema é bem parecido e exige muita estratégia, estudo e coragem. A escolha pode mudar a vida de uma franquia. Seja positivamente ou…
Resumidamente, a ordem das escolhas no draft depende do desempenho da equipe na temporada anterior. Ou seja, com a ideia de manter o equilíbrio, os times com pior desempenho no ano que passou, escolhem primeiro. Os times que não foram aos playoffs participam de um sorteio que define os três primeiros a escolher – até 1987 só 1ª escolha era definida por sorteio. Em seguida, a partir da quarta escolha, o que vale é a ordem contrária ao desempenho de vitórias/derrotas da temporada anterior.
Traduzindo: os últimos serão os primeiros. Como uma ordem de escolha simples não seria lá muito interessante, o draft permite trocas entre os agentes das equipes. Isso significa que um time que tem a primeira escolha pode trocá-la, por exemplo, por dois ou três jogadores, por outras escolhas, e assim o jogo chamado draft fica cada vez mais interessante.
São inúmeras as trocas que marcaram a história da NBA. Abaixo, as cinco que causaram maior impacto nas franquias envolvidas *.
1998 – DIRK NOWITZKI
O Milwaukee Bucks selecionou Dirk Nowitzki na 9ª escolha do draft de 1998, mas trocou o alemão e mais outro jogador, o ala/pivô Pat Garrity, pela 6ª escolha feita pelo Dallas Mavericks, que era o também ala/pivô Robert Traylor.
Naquele ano, além de ficar com Nowitzki, o Mavs ainda mandou Pat Garrity para o Phoenix Suns junto com mais dois jogadores em troca do armador Steve Nash, que já estava há dois anos em Phoenix.
Já o Bucks preferiu mandar o Nowitzki embora para ficar com Robert Traylor, um jogador que enfrentou sérios problemas de saúde, lutou contra a balança e não teve sucesso na NBA nos seis anos que atuou na liga – sendo que apenas dois foram com a camisa do Bucks. A média de sua carreira foi de 4.8 pontos.
Por outro lado, Nowitzki é considerado um dos melhores estrangeiros que já atuaram na NBA. MVP da temporada 2007, ele esteve 14 vezes no All Star Game e conduziu o Dallas ao título em 2011.
Ele se aposentou em 2019 e a camisa que usou durante as 21 temporadas em Dallas, com o número 41, foi retirada (http://abre.ai/nowitzki_
1980 – ROBERT PARISH E KEVIN MCHALE
Ex-técnico, Red Auerbach virou um dos gerentes mais vitoriosos da NBA pelo Boston Celtics. E ele foi responsável por uma das movimentações mais importantes no draft de 1980. Na ocasião, ele convenceu o Golden State Warriors trocar a 3ª escolha do draft juntamente com o pivô Robert Parish pela 1ª e 13ª escolhas, que eram as de direito do Celtics naquela temporada.
Já com Parish garantido, nessa terceira escolha Auerbach selecionou o ala/pivô Kevin McHale. Em pouco tempo, junto com Larry Bird, eles formariam um trio espetacular, vencendo 3 títulos da NBA. Para muitos, esse é considerado o maior trio da história da liga, formado por conta das trocas feitas no draft de 1980 (http://abre.ai/trio_celtics).
Já o Warriors selecionou como primeira escolha o pivô Joe Barry Carroll, e o ala/pivô Rickey Brown na 13ª escolha. Nenhum deles fez tanto sucesso como o trio de Boston.
1996 – KOBE BRYANT
Para muita gente, pelo peso de Kobe Bryant na história do esporte, essa pode muito bem ser considerada a troca mais importante do draft da NBA.
Em 1996, o Charlotte Hornets tomou uma atitude que mudaria para sempre sua história, a do Lakers, da NBA e do basquete de modo geral ao abrir mão do jovem Kobe, ainda com 17 anos e vindo diretamente do high school, sem passar pelo basquete universitário – uma atitude audaciosa e para poucos.
Kobe foi selecionado na 13ª escolha pelo Hornets, que não pensou muito antes de manda-lo para o Lakers quando o time de LA ofereceu o pivô sérvio Vlade Divac, que realmente era muito bom (http://abre.ai/vlade_
Na época e no papel, a troca não parecia ser um grande desastre para o Hornets. Afinal de contas, o próprio Kobe já havia declarado que só jogaria na NBA se fosse no Lakers. Então gerente do Lakers, o ex-jogador Jerry West, que já tinha visto treinos do Kobe, apostou no garoto.
Do outro lado, Vlade ficou dois anos em Charlotte e, apesar de ser um dos nomes importantes do basquete mundial, não foi para o Hornets nem de perto do que Kobe foi para o LA Lakers, onde jogou toda sua carreira de 20 anos e levantou 5 títulos. Hoje, tanto o número 8 como o 24, usados por ele, foram retirados.
Seu legado é tão grande que depois de sua trágica morte em janeiro de 2020, o Dallas Mavericks também retirou a camisa 24, mesmo Kobe que nunca tenha saído de LA. Tal feito aconteceu com Michael Jordan, quando o Miami Heat aposentou o número, embora ele só tenha defendido Chicago Bulls e Washington Wizards.
1987 – SCOTTIE PIPPEN
No draft de 1987, o Seattle SuperSonics – hoje OKC – selecionou Scottie Pippen na 5ª posição da primeira rodada, mas não titubeou e trocou o jogador com o Chicago Bulls para obter o pivô Olden Polynice e futuras escolhas de draft.
Polynice, que veio do Haiti, tinha seus 2,11 metros e algumas qualidades. Mas também não foi para o Sonics nem de perto o que Pippen representou no Bulls (http://abre.ai/polynice).
Com a camisa 33 do time de Chicago – que foi retirada após sua aposentadoria -, Pippen conquistou seis títulos da NBA. Aquele time obviamente tinha como grande protagonista Michael Jordan, astro que foi selecionado antes, como 3ª escolha no draft de 1984 (o mesmo que teve Oscar Schmidt escolhido pelo New Jersey Nets – hoje Brooklin Nets).
1956 – BILL RUSSELL
Como tinha feito uma boa temporada no ano anterior, o Boston Celtics tinha uma das piores posições de escolha naquele draft de 1956.
Mas novamente, brilhou a capacidade de análise do gerente e ainda treinador Red Auerbach, que já estava de olho no pivô Bill Russell, que havia sido a 2ª escolha feita pelo St. Louis Hawks – atualmente Atlanta Hawks.
A proposta de Auerbach foi mandar Ed Macauley e Cliff Hagan para o Hawks em troca de Bill Russell. A troca foi aceita e, no mesmo draft, o Celtics ainda garantiram K.C. Jones e Tom Heinsohn. Isso significa que, numa noite, Boston selecionou três jogadores que estariam mais tarde no hall da fama da NBA.
A verdade é que Ed Macauley teve uma carreira incrível, inclusive chegando ao hall da fama. Mas nunca foi Bill Russell.
Pivô do time fantástico dos Celtics que venceu dez títulos em onze campeonatos, entre 1959 e 1969, ele jogou 13 temporadas pela franquia, que aposentou o número 6 em sua homenagem. Cinco vezes MVP da temporada e selecionado 12 vezes para o All Star Game, Russell teve médias de 15.1 pontos e 22.1 rebotes por partida (http://abre.ai/lances_russell
Ele também tem seu nome gravado na História como o primeiro treinador negro da NBA. Em 1966 ele assumiu o papel de jogador/técnico por 3 temporadas, e conquistou 2 títulos para a franquia de Boston.
(*) Como a lista total é grande, os critérios usados para o desempate que definiu as cinco trocas de maior impacto foram:
1º Número de títulos da NBA do jogador pelo time para qual ele foi trocado;
2º Se seu número que o jogador usou foi retirado pela equipe para qual foi trocado;
3º Quantas vezes ele foi MVP da temporada por esse time para onde foi;
4º Quantas vezes esteve na Equipe Ideal da NBA jogando esse time; e
5º Número de participações no All-Star Game enquanto atuava por esse time.
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